domingo, 13 de setembro de 2009

Pensamentos de Um Condenado

Não acredito que eu vim parar aqui.
Anos de estudo, 1º aluno da faculdade, tanta dificuldade para terminar o mestrado, a chance de fazer um doutorado no exterior e eu fui terminar preso.
Podia ter levado uma vida mais que tranquila, ter uma linda mulher e inteligente, filhos saudáveis que eu poderia dar-lhes uma excelente educação e sentir orgulho disso, mas eu tinha que fazer aquelas falcatruas.
Meu primeiro dia após ter sido condenado, hoje eu me misturo com todo o resto do pessoal, assassinos, assaltantes, não tem mais nada de cela especial pro doutor aqui.
O escândalo no qual eu me envolvi apareceu na TV, eles devem ter raiva de mim, ao menos o presídio é de segurança máxima, hã "segurança máxima", afinal, estou no Brasil. Bom, vamos lá.
Que pátio fétido, o que eu fiz da minha vida?
O que esses caras fizeram da vida deles?
Me olhando como se fossem me intimidar, bom, eles estão me intimidando, aqui é a lei do mais forte, somos todos iguais, fomos todo trazidos para o mesmo lugar e considerados seres igualmente perigosos, começo a achar isso justo.
Eu nasci numa família de classe média, tive todo um aparato por trás, tive estudo ao alcance de um lápis e mesmo assim hoje eu estou junto de caras que mal sabem escrever o próprio nome. E eu vejo que não sou ninguém pra julgar também, essas coisas já nascem contigo.
Se eu tivesse nascido numa favela a primeira coisa que eu ia querer fazer era roubar dos 'preibói', essa sociedade excluiu os caras, eles tem mesmo é que lutar contra.
Também acho que se tem que manter a ordem, então, os dois estão certos. Parece que viveremos eternamente em guerra.
Os miseráveis lutando por espaço e o sistema tentando estabelecer a ordem, me lembra muito a luta entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento...
Enfim, agora eu continuo preso e a única diferença que eu vejo 'praquele' negão é aonde nós nascemos.

Um comentário:

  1. Cada um com suas armas, cada um de acordo com sua necessidade, mas nossas essência errante, é sempre a mesma.

    ResponderExcluir