Em meados dos anos 40, numa vila do interior de Restinga Seca, chamada Vila Rosa e que não existia nada de saneamento básico, escola, carros e muito menos energia elétrica, minha avó(Anália) e meu avô(Adolpho) se conheceram.
Sempre foram vizinhos de cerca, mas nunca se falavam. Anália era amiga da irmã de Adolpho, Luíza, o que os fez se conhecerem, com quase nada de comunicação.
O ponto de encontros dos jovens da época eram os bailes dos centros comunitários que todas as vilas tinham, como minha avó me confessou:
- Teu avô demorou uns 3 bailes para me tirar pra dançar, quando eu ia na casa dele mal me dava "olá", sempre foi carrancudo e orgulhoso.
- Ta vó, mas e quando vocês se beijaram a primeira vez? - apressado.
- Argh! Naquela época não era essa 'melaçon' que vocês fazem hoje em dia. Íamos pros bailes pra dançar, só dançar e era bem bom!
- Ta vó, mas o vô chegou em ti em algum momento, se não eu num tava aqui, certo? Perguntava eu megaemocionado.
- Depois de algumas danças nos bailes o teu vô começou a conversar mais comigo, e um dia ele apareceu lá em casa e perguntou ao meu pai se podia namorar comigo.
- Como assim? - disse espantado - Ele não te pediu em namoro?!
- Naquela época as coisas eram diferentes, teu avô sabia que eu ficaria com ele. Tu não dava bola pra todo mundo, tu escolhia UMA pessoa e era 'praquela' pessoa que tu dedicava atenção, era daquela pessoa que tu recebia essa atenção de volta.
Anália e Adolpho namoraram 4 anos no sofá de casa e minha avó casou virgem(acreditem, eu boto a minha mão no fogo)! Casaram, tiveram 2 filhas, são padrinhos de, pelo menos, umas 20 pessoas, abriram um açougue, cultivaram as terras da família e ajudaram a criar os netos(um deles sou eu, tu já entendeu, certo?).
Por ironia do destino, em 2002, Adolpho faleceu depois de sobreviver a 3 derrames, osteoporose e câncer de próstata. Minha vó cuidou dele enquanto agonizava (mesmo) com a doença. Quando meu avô morreu o que mais escutava dela, e ainda escuto, é que agora estava sozinha. Demorou um tempo, mas entendi que por mais atenção que eu, minha irmã, tia, mãe e outros déssemos, ela nunca mais deixaria de se sentir assim. Eles foram casados por 49 anos, ironia ou não, um ano antes de completarem suas bodas de ouro. Nada de cinematográfico, tudo de realidade.
olha só o caso da minha avó:
ResponderExcluir- Ahh teu avô, mia fia, no dia do casório tentou fugir à cavalo pra casar com outra... Madaí meus irmon não dexaram, aí teve que casar comigo.
uahUAHuaha
massa a história Green's
Bela história, triste fim!
ResponderExcluirBoa narrativa!
linda história, isso me fez refletir se o que nos distancia da possibilidade de achar alguém pra vida toda é ter tantas possibilidades de alguem's por alguns instantes.
ResponderExcluirA vida toda parece ser tão complexa, e ao mesmo tempo há pessoas que fazem dela algo simples, como o que deve ser pois de outra forma não seria o mesmo, e só isso já basta para se cultivar uma boa escolha, ótima, no caso dos seus avós.
tu escolhia UMA pessoa e era 'praquela' pessoa que tu dedicava atenção, era daquela pessoa que tu recebia essa atenção de volta.
ResponderExcluirRígido! :p